Dúvidas
sobre a história e seu estudo.
ou - Quem tem medo do lobo mau
Em algum
momento do curso de história é bem comum e mais que isso,
importante, que o futuro profissional em história questione-se e
reflita sobre o labor que implica sua graduação. Por
profissional
de história compreenda-se tanto o pesquisador, historiador,
quanto o docente do conteúdo de história dos colégios. Equiparados
em importância na função de fomentar e propiciar a reflexão é
fundamental ao bom profissional conhecer, ou ao menos questionar as
minúcias e peculiaridades da área das ciências sociais que se
distingue por HISTÓRIA.
Não se
trata aqui de exigir um aprofundamento demais teórico sobre a
formação das ciências sociais ou história do pensamento, ao que
questionamentos que inicialmente podem parecer bastante corriqueiros
ou pouco requintados filosoficamente revelam em seu detalhe
profundidade abismal. Perguntas inicialmente simples do tipo, Que
é história? Para que serve a história? ou Como se
escreve a história? Revelaram uma reflexão tão plural quanto o
numero de questões. Haja vista que tais questionamentos acima
citados serviram como títulos das obras de importantes historiadores
sobre este tipo de reflexão, dos quais na mesma ordem: Edward Ale
Caber, Marca Bloch (cuja obra pode ser também encontrada sobre o
título Introdução à história) e Paul Verne. (Confira
bibliográfica no final do artigo)
Poder-se
ia começar este exercício crítico questionando: O que faz o
estudioso de história? Sendo comum para este reputas como: o
historiador estuda o passado ou que estuda os homens e o
tempo. Esta Segunda resposta apesar de mais acurada não esconde
o desaviso e a superficialidade que pode ocorrer nos leigos à área,
mas cresse inaceitável ao profissional que almeja conhecer bem seu
labor. Logicamente não se tratam aqui de respostas gerais, aquelas
que abrangem tudo e nada explicam, mas sim, pergunta simples e
resposta objetiva. Esta resposta perde-se na proposição mais
filosófica do saber historiográfico. De fato estuda-se o homem e o
tempo na história, mas objetivamente no dia a dia do historiador seu
trabalho é geralmente debruçar-se sobre um conjunto documental para
dele refletir sobre a sociedade de determinada época. Assim tem-se
uma resposta parcial: O estudioso de história estuda documentos
históricos e historiográficos.
Sobre
esses tais documentos, duas proposições que podem parecer demais
óbvias podem ajudar a discutir a primeira resposta, a de que o
historiador estuda o passado. Uma delas diz respeito ao que se
compreende por documento histórico. Pensando-se materialmente
o que se denomina “documentos” são objetos que não
existem ou foram criados inicialmente para este fim, esta denominação
é uma apropriação e incorporação de um novo sentido atribuído
pelo pesquisador, que junto à sua metodologia de análise torna tais
objetos mediáveis à pesquisa. Guy Bourdé em Escolas Históricas
(1983) discutir as escolas historiográficas aponta em
cada uma delas as diferentes compreensões do que seria o documento
histórico. A síntese a seguir é pretende somente ilustrar os
contrastes como exemplo, não se concentra em questões mais
específicas ou ideológicas sobre as correntes historiográficas
citadas: Para a chamada escola metódica ou positivista, meados do
século XIX, é documentação competente toda documentação
oficial (atas, cartas, documentos de cartórios e de governantes) e
arqueológica (monumentos, relíquias). Com o materialismo
histórico dialético, ortodoxo, voltado a observar o desnível
entre as relações de produção, capitalista e operariado, são
documentos as estatísticas sociais e econômicas, regras de marcado,
balanças comerciais. Com a historiografia francesa de meados do
século XX, representada nos annales, posteriormente na nova
história e suas partes, o conceito de documento se amplia assim como
o de objeto, incluindo a pluralidade de interesses que a história
pudesse suscitar, estuda-se assim a psique, as lendas, as
vestimentas, a cultura.
A outra
proposição deriva-se desta, posto que tais objetos reinterpretados
em fontes, encontra-se numa dimensão da vida do homem
denominada “presente”. Desta feita o historiador é
aquele profissional que estuda no presente, objetos do presente.
Questionar-se-ia então qual é a relação do historiador com o
passado. Para a tristeza dos românticos viajantes do tempo
fica difícil conceber que o historiador vá buscar o passado, é sim
plausível pensar na preterização semântica do presente voltada à
construção de um discurso simulado de presentificação do passado.
Desenvolvendo-se
um pouco mais a reflexão retornar-se-á questão inicial, não no
sentido anteriormente tomado referente à ação do historiador, mas
agora sobre o produto desta ação, expresso no seguinte enunciado: O
que o historiador faz?
Para
tal pergunta é comum ouvir, e talvez o leitor esteja pensando,
coisas como: a história,
o retrato do passado, ou que o
historiador é aquele que conta como foi o passado.
Concordando com Certeau (Escritas
da história –1989) o historiador
produz um discurso, um texto historiográfico e logo que situado num
contexto este é por sua vez histórico. Assim sendo não retrata o
passado, mas uma compreensão possível no presente para corresponder
às demandas e possibilidades de conhecimento da sociedade do
presente. Observar que a historiografia não retrata o passado,
considerar as subjetividades, ou melhor, a pluralidade de
entendimentos possíveis no presente é tombar silenciosamente o
paradigma da história verdade.
Neste aspecto, o poeta Afonso Romano de Santa`anna em seu poema
Posteridade é
bastante eloquente
na projeção de como os estudiosos das futuras gerações
compreenderão esta. Trecho a seguir:
Assim entraremos para história deles
Como outros para a nossa entraram:
Não como o que somos
Mas como reflexão de uma reflexão.
(SANTA`ANNA –1997, p.68).
Não se
conhece o nosso labor sem por-se em xeque
posicionamentos e a própria situação de história em quanto
ciência. O que concerne aqui é ariscar responder um pouco das
questões suscitadas, e o que é pior, se comprometer com as muito
poucas certezas. Quanto a isso cabem do ainda dois destaques. O
primeiro aos futuros professores, o de que não é necessário
despejar toda a disconstrução da história nos alunos de colégio.
Esta reflexão tem por objetivo auxiliar a inclusão e consideração
das diversidades na escolha e preparo do conteúdo de aula. O
segundo aos o futuros pesquisadores, que podem ter a impressão de
que o chão foge aos pés quando o labor historiográfico não se
liga mais a nobres paradigmas de civilização, ou conscientização
das massas proletariado para um determinado “verdadeiro”
papel na transformação da sociedade humana. O fato é que o que se
vislumbra é pluralidade, que ao invés de diluir as possibilidades
de entendimento, as retira de patamares intangíveis quase etéreos
das verdades, do domínio das verdades e de simulacros de
neutralidade e os lança a mão do homem. O historiador está sempre
comprometido com seu tempo e discurso. E durma-se com todo este
barulho.
BOURDÉ, Guy. MARTIM, Hervé. As Escolas
Históricas. Portugal: Euro Americana, 1983.
BLOCH, Marc. Introdução a la História. México: Fondo de
Cultura Económica, 1987. (Breviarios n.º64.)
CARR, E.H. Que é História?. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
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CERTEAU, Michel de Escritas da História. Rio de janeiro:
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SANT`ANNA, A. R. Epitáfio para o Século X, e outros poemas.
Rio de janeiro: Ediouro, 1997.
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Escribe la História; ensayo de
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